Entregas espontâneas e o tráfico de animais silvestres:
leituras sobre o estado de Mato Grosso
DOI:
https://doi.org/10.56081/revsusp.v3i2.505Resumo
Inúmeras ações humanas ameaçam a biodiversidade, por meio do desmatamento e queimadas para o avanço da agropecuária, expansão urbana e industrial e comércio ilegal de fauna silvestre. O tráfico é uma das principais ameaças à fauna silvestre, com potencial para causar a extinção de espécies. Embora seja uma dificuldade que impacta não só o meio natural, como também o social, o tráfico de fauna silvestre sofre com a escassez de dados nos órgãos ambientais. Assim, esta pesquisa propõe investigar a relação entre entregas espontâneas de animais silvestres e o tráfico de animais no estado de Mato Grosso. Para isso, foram realizados levantamentos teórico-bibliográficos que abordaram a relação entre sociedade e tráfico de animais, legislações ambientais e a importância da fauna silvestre. Foi utilizado o método estudo de caso a partir de dados quantitativos de entregas espontâneas de animais silvestres, fornecidos pelo Batalhão de Polícia Militar de Proteção Ambiental-MT (BPMPA), utilizando como recorte temporal o período entre 2015 e 2020. Dos 141 municípios mato-grossenses, somente 34 apresentaram entregas espontâneas registradas no BPMPA. Não foi possível afirmar que todas as entregas espontâneas estejam relacionadas às ações do tráfico ou crimes contra a natureza. O principal aspecto positivo associado às entregas espontâneas é a possibilidade de reintrodução dos espécimes em seus hábitats naturais. Embora o tráfico de animais silvestres seja um problema espacial relevante, pode-se observar a escassez de pesquisas relativas a esses assuntos.
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